Existe uma fase da vida em que tudo parece acontecer ao mesmo tempo.
O corpo muda, as emoções oscilam, o filho entra na adolescência e a profissão parece um território desconhecido. Como se fosse pouco, a vida ainda nos chama para cuidar de quem cuidou da gente: os pais, a família, as raízes.
Foi assim comigo.
Entre o climatério, o turbilhão emocional de criar um adolescente e o caos natural de reinventar minha carreira, encontrei abrigo onde eu menos esperava: dentro de mim — e dentro da arte.
Os dias no restaurante da minha família, rodeada de panelas, temperos e memórias, me ensinaram a silenciar o barulho interno. Existe algo quase sagrado em cozinhar comidas típicas ao lado da minha mãe, como se cada receita fosse também uma oração, uma história e um pedaço de cura. A culinária que vem de gerações virou meu primeiro ato de presença.
E, aos poucos, vieram também outros hobbies que envolvem a respiração consciente e as artes manuais, que se tornaram um ritual íntimo — um jeito de transformar sensação em forma, caos em criação, peso em beleza.
A arte tem esse poder: ela nos devolve para dentro.
Mas talvez a maior cura dessa fase tenha sido perceber a crise das consciências.
Aquele momento em que finalmente entendemos que:
O que incomoda no outro é, muitas vezes, um reflexo do que existe em nós.
E quando esse espelho aparece — seja no filho, no parceiro, nos pais, no trabalho ou no mundo — temos duas escolhas: reagir ou olhar para dentro.
Quando eu parei para enxergar o reflexo, entendi que a solução nunca estaria no outro.
A cura estava em mim.
No movimento que eu fazia em direção ao que precisava ser ajustado, compreendido, acolhido.
Esse entendimento é libertador.
Hoje, vejo que essa fase não é sobre perder o controle, mas sobre ganhar consciência.
Não é sobre apagar o caos, mas sobre criar pequenos rituais que devolvem ordem ao coração.
A culinária, a respiração consciente , as artes manuais — tudo isso virou linguagem.
Um jeito de me chamar de volta quando o mundo grita.
E no fim, talvez esse seja o segredo:
quando a vida vira espelho, a arte vira caminho.
E, passo a passo, a gente se cura enquanto cria e se movimenta.

Ana Paula Aquino
Ana Aquino é mãe, empreendedora criativa e apaixonada por processos de autoconhecimento.
Entre o climatério, os afetos e a arte, descobriu novas formas de silêncio e consciência.
Se reconecta com suas raízes através da culinária familiar.
Acredita que cada pessoa pode transformar sua história a partir da busca por si e por meio do conhecimento.
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